Catadores cobram reconhecimento por mitigar efeitos das mudanças climáticas

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Depois de entregarem na posse a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por meio das mãos da catadora Aline Sousa, catadores de todo o país voltaram a se reunir em Brasília na 10ª Expocatadores. O evento discute as condições de trabalho da categoria, que sofre com a informalidade e com as mudanças climáticas. A campanha: “A conta tem que fechar, já!” dá o tom da principal reivindicação apresentada pelo grupo: o reconhecimento e a valorização dos serviços de coleta e reciclagem prestados aos municípios brasileiros. 

“Todas as prefeituras precisam reconhecer o nosso trabalho e nos pagar por quilo daquilo que a gente tira do meio ambiente”, defendeu, em entrevista à Agência Pública, o presidente da cooperativa Ação Reciclar, Antônio Almeida, mais conhecido como Toninho Catador. Segundo ele, a economia gerada para o município por cada quilo de material recuperado pelos catadores pode chegar a R$ 1, tendo em vista o gasto feito com o transporte e aterramento do lixo, além do valor da recuperação ambiental de gás carbônico. 

Nanci Darcolete, catadora que atua há mais de 30 anos em São Paulo e integra o grupo de incidência política do Pimp My Carroça, ressalta a importância da categoria para a “mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”. “Quando a gente recicla e manda o material para a indústria, a gente faz um processo de economia circular e deixa de extrair matéria-prima. Então a reciclagem que a gente faz em São Paulo, por exemplo, pode ajudar a diminuir o desmatamento na Amazônia”, disse à Pública.

Catador Toninho
Catadora Nanci
Os catadores Toninho e Nanci ressaltam a importância da categoria para o meio ambiente

De acordo com uma publicação da rede de pesquisa Women in Informal Employment: Globalizing and Organizing (WIEGO), as catadoras e catadores são responsáveis pela redução de emissão de carbono em muitas cidades e sustentam a reciclagem de plástico. 

A pesquisa também afirma que a categoria recupera mais de 58% do plástico reciclado no Sul global. “Essas atividades melhoram o uso de recursos naturais, preservam e ampliam as áreas verdes, evitam enchentes e facilitam a circulação da água, removem os resíduos na fonte, facilitam sistemas de energia inovadores, como o biogás, e reduzem as emissões de gases de efeito estufa”, afirma o texto.

Demandas levadas ao governo 

Em janeiro deste ano, a catadora Aline Sousa foi responsável por entregar a faixa presidencial a Lula, durante a cerimônia de posse. Segundo ela, a entrega foi bastante simbólica e “um recado” para o mundo: “o povo é quem precisa da política pública, então nada mais justo do que construir isso junto”. Na avaliação dela, os catadores vinham de um cenário de invisibilidade e desvalorização nos últimos anos e voltaram a fazer parte do “cenário de reconstrução e desenvolvimento” com o novo governo.

Para apresentar suas demandas, representantes da categoria encontraram autoridades públicas nos últimos dias. Na última terça-feira (19), a catadora Nanci Darcolete se reuniu com Pagu Rodrigues, coordenadora-geral da secretaria de Prevenção de Violência Contra as Mulheres do Ministério das Mulheres. Na reunião foi abordada a inclusão dos catadores como população prioritária no Sistema Único de Saúde (SUS).

“A gente falou da inclusão da mulher catadora como público prioritário que sofre muita violência nas ruas e sofre também a agressão do próprio trabalho em si, do calor, do peso [dos materiais], da saúde”, contou à reportagem. Segundo ela, a coordenadora se comprometeu a abrir o diálogo para que as mulheres catadoras sejam incluídas como um público prioritário da secretaria, com a abertura de editais e programas específicos. 

Catadora Aline Sousa foi responsável por entregar a faixa presidencial a Lula, durante a cerimônia de posse em janeiro
Catadora Aline Sousa foi responsável por entregar a faixa presidencial a Lula, durante a cerimônia de posse em janeiro

O grupo também reivindica que os catadores sejam reconhecidos como prestadores de serviços das prefeituras, o que garantiria mais segurança e acesso a outros direitos como contribuição para a previdência, saúde, transporte e moradia. “A gente teria vários benefícios deixando essa informalidade total e se tornando um trabalhador como qualquer outra profissão”, defendeu na mesma linha Nanci Darcolete.

“Nosso trabalho é um serviço essencial à população previsto na Constituição Federal, que é o direito ao saneamento básico”, completou Aline Sousa.

A Expocatadores também contou com a presença de alguns ministros do governo, como Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que abordou o racismo ambiental. Já o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, comandado pelo ministro Sílvio Almeida, anunciou um repasse de mais de R$ 19,3 milhões para fortalecimento de cooperativas de materiais recicláveis e proteção da população em situação de rua. 

Na sexta (22), o presidente Lula participa da exposição, no encontro chamado Natal dos Catadores, uma agenda anual do político.

Bianca Feifel/Agência Pública

Bianca Feifel/Agência Pública

Bianca Feifel/Agência Pública

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