Ciclo de alta da Selic pode elevar inadimplência em até 1 ponto percentual, diz Itaú BBA | Finanças

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O atual ciclo de alta da Selic deve levar a uma desaceleração no crescimento do crédito e a um aumento da inadimplência, segundo analistas do Itaú BBA. Eles analisaram o crédito livre para empresas e famílias e lembram que há uma defasagem entre a alta no juro básico e esses impactos, mas os dados mostram que, sem dúvidas, é um vento contrário.

O Itaú BBA se debruçou especialmente sobre o crédito ao consumo (empréstimo pessoal, cartões, consignado, financiamento automotivo e cheque especial). Nesse caso, o impacto da alteração na Selic costuma acontecer com uma defasagem de seis meses. E a conclusão é que o atual ciclo de alta levaria a uma inadimplência entre 0,5 ponto percentual (p.p.) e 1,0 p.p. maior ao fim de 2025, partindo do patamar atual de 7,0%.

“O canal de transmissão se dá via um encargo de juros mais elevado para os bolsos dos clientes. Este padrão implica que todo o resto constante, os bancos que fornecem crédito começarão a utilizar uma maior probabilidade de inadimplência na hora de conceder o crédito. Essa maior percepção de risco implica redução dos limites e/ou juros maiores. Os padrões nos gráficos sugerem uma pressão de alta gradual sobre a inadimplência à medida que entramos em 2025”, aponta o relatório.

Em termos de volume de concessão de crédito, o Itaú BBA explica que o impacto da mudança na Selic costuma acontecer com uma defasagem de 16 meses. Isso significa que, durante boa parte de 2025, o cenário ainda estaria sendo beneficiada pela queda na Selic ocorrida entre o fim de 2023 e o início de 2024. “Então, olhando apenas para a Selic, os volumes de crédito podem crescer entre um dígito alto e dois dígitos baixos em 2025, para esfriar gradualmente em 2026.”

O relatório aponta que muitas outras variáveis também influenciam o crédito, como taxas de longo prazo, PIB, inflação, impostos e regulamentação, e que cada banco pode navegar pelas pressões macroeconômicas de maneira diferente, com ações voltadas para os clientes, produtos e eficiência. Ao mesmo tempo, os analistas lembram que, com o padrão contábil IFRS 9, que entra em vigor no próximo ano, os bancos têm de adotar um modelo de perda esperada na hora de fazer suas provisões, que torna obrigatório o uso de variáveis macroeconômicas prospectivas.

No caso do crédito livre para empresas, o Itaú BBA afirma que a defasagem do impacto da Selic nos volumes concedidos é menor, de 12 meses. Assim, o volume deve cresce entre 5% e 10% em 2025. “Se os padrões históricos se mantiverem (todo o resto constante), um nível de Selic de aproximadamente 13% alcançado em meados de 2025 levaria à estagnação do crescimento do crédito PJ no fim de 2025 ou início de 2026.”

O impacto da Selic na inadimplência PJ também tem defasagem de 12 meses. Mas os analistas apontam que mais recentemente houve um descasamento maior entre a curva de juros e a de inadimplência. “Acreditamos que isto se deve a: mercados de capitais mais fortes, reduzindo spreads e/ou aumentando prazos; e um estoque de dívida mais barata contratado durante os dias de baixa Selic de 2021, que eventualmente irá acabar.”

Nesse caso, os analistas não fornecem um número sobre qual seria o provável impacto da alta da Selic na inadimplência PJ, embora seja possível inferir que ela deve pressionar o indicador para cima. Primeiro porque um encargo de juros maior consome mais do faturamento de uma empresa. “Além disso, a Selic terá permanecido na casa de dois dígitos por um período prolongado (2022 a 2026). As empresas geralmente têm dívidas de prazo mais longo do que os consumidores. Com juros altos por muito tempo, fica mais difícil evitar contratações de dívida mais cara, criando novamente pressão sobre a inadimplência.”

— Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

Fonte: Externa

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