A defesa do tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, preso sob suspeita de participar do plano para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, trabalha com a tese de que o militar foi vítima de uma “sabotagem”. Nesta sexta-feira, o advogado Jeffrey Chiquini convocou uma entrevista coletiva com jornalistas no Rio para questionar as provas que levaram à prisão de Azevedo. Ele afirmou que seu cliente foi alvo de uma emboscada para sujar a imagem das forças especiais militares.
Azevedo foi preso, junto a outros quatro militares, no dia 19 por suposto envolvimento no plano de matar Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice Geraldo Alckmin (PSB). Na ocasião, em dezembro de 2022, os dois políticos haviam acabado de ser eleitos. O assassinato dos três era parte da tentativa de um golpe do Estado para a manutenção do então mandatário Jair Bolsonaro (PL) no poder.
Azevedo faz parte do grupo chamado “kids pretos”, uma força de elite do Exército — outros dois militares presos também integravam o mesmo grupo: Hélio Ferreira Lima e Rafael Martins de Oliveira. Segundo investigação da Polícia Federal, eles chegaram a se posicionar para matar Moraes no dia 15 de dezembro. A operação, porém, foi abortada pela saída antecipada do ministro naquela noite do prédio do Supremo.
Todo o plano do assassinato, diz a PF, era coordenado por meio de um grupo de mensagem. Nele, os participantes tinham codinomes. Azevedo responderia pela alcunha “Brasil”, conforme apontam as investigações.
As provas que existem contra o tenente-coronel são o celular utilizado para enviar as mensagens nesse grupo, além de conexões e de dados de Estação Rádio Base (ERB) de um outro celular, de uso pessoal de Azevedo. Esses dados mostram a interação do militar com outros investigados durante os preparativos para o crime.
O advogado Jeffrey Chiquini, contudo, contesta a versão da Polícia Federal. Segundo o defensor, o celular utilizado no grupo golpista não estava em posse de Azevedo na época da tentativa de assassinato. O militar, segundo a versão da defesa, só teria recebido o aparelho duas semanas depois, no dia 24 de dezembro de 2022.
Chiquini afirma que seu cliente pegou o celular para trabalhar, o que seria praxe dentro do Exército e em forças de segurança. Nesse dia, Azevedo coloca no aparelho um chip cadastrado em seu próprio nome, conforme consta também na investigação da PF.
“Eles [as investigações] presumem que esse celular sempre esteve com o coronel e aqui está à prova da sabotagem. Esse celular foi plantado de forma proposital”, disse Chiquini nesta sexta-feira. O advogado explica que Azevedo escolheu o celular “implantado” por ser o mais novo entre os que estavam à disposição para o militar. Era, nas palavras do defensor, um “cavalo de troia”.
“Ele não deu sorte. Infelizmente, ele caiu numa armação”, afirmou o advogado.
Para justificar sua versão, Chiquini afirmou que a suposta “conspiração e sabotagem” seria para sujar as imagens das Forças Armadas Brasileiras. “Nada melhor do que se iniciar [a sabotagem] pelo setor mais qualificado”, completou.
O indício que o advogado utiliza para corroborar sua tese é que o planejamento para o assassinato das autoridades e para o golpe de Estado é feito com muito “amadorismo” — o que, na sua avaliação, é contrário ao perfil de elite dos “kids pretos”.
“O Brasil precisa entender que se um FE [força especial] quisesse fazer uma operação dessa, a operação teria sido feita”, disse, fazendo referência ao plano de assassinato.
“Se um FE estivesse envolvido nisso, nunca nunca teria sido amador como foi”, reforçou, em outro momento da entrevista coletiva.
Apesar das investigações apontarem o envolvimento de Azevedo no caso, ele não consta na lista dos 37 indiciados pela Polícia Federal por suposta tentativa de golpe. A justificativa para isso, conforme o Valor já havia apurado, é porque o militar ainda não tinha sido ouvido pelos investigadores.
Azevedo só prestou depoimento ontem. Segundo Chiquini, o tenente-coronel alegou ser vítima de golpe e deu sugestões de nomes de quem poderia ter interesse em sabotá-lo. O advogado, porém, afirmou que não daria detalhes sobre isso por conta do sigilo do caso.
“O coronel respondeu sem fazer imputações [de quem poderia ter sabotado contra ele], mas demos várias linhas de possibilidades. Não vou poder falar porque eu tenho esse sigilo que é da investigação. (…) Ele citou linhas de investigação para chegar a quem poderia ter plantado esse celular”, disse.
Chiquini crê que o “verdadeiro autor pode estar querendo burlar a investigação e mudar o foco da investigação”.