Dois promotores acusaram nesta segunda-feira (11) o
ex-presidente do Paraguai Mario Abdo Benítez (2018-2023) e vários de seus
ex-funcionários pelos supostos crimes de revelar segredos de serviço, induzir
um subordinado a cometer ato punível e falsa declaração, entre outros, informou
o Ministério Público (MP).
A acusação foi feita como parte de uma investigação aberta
após denúncia apresentada em julho de 2023 pelo ex-presidente Horacio Cartes,
antecessor de Abdo Benítez, que se declarou vítima desde 2018 de uma suposta “perseguição
por pessoas no exercício do poder político” e depois ampliou sua acusação fazendo
um alerta sobre uma suposta “revelação de segredos de serviço” e de um plano
elaborado a partir de órgãos do governo.
“Durante parte de seu mandato, Benítez [2021 a 2022] teria
desenvolvido um esquema que visava gerar investigações criminais contra figuras
que se opunham ao seu movimento dentro do Partido Colorado [Horacio Cartes e
seu afilhado político, o atual presidente Santiago Peña], a fim de
enfraquecê-los nas esferas política, econômica e principalmente eleitoral”,
disse em comunicado o MP.
“Para atingir esse objetivo, Abdo Benítez teria composto seu
gabinete de ministros com pessoas com experiência no campo da investigação
[ex-promotores do MP]”, acrescenta o texto.
A acusação foi apresentada pelos promotores Aldo Cantero
Colmán e Giovanni Grisetti “depois de ter elementos de convicção suficientes
para suspeitar da existência dos atos puníveis” de divulgação de segredos de
serviço, divulgação de segredos privados por funcionários ou pessoas com
obrigações especiais, induzir um subordinado a cometer um ato punível, falsa
denúncia, simulação de um ato punível, usurpação de funções públicas e
associação criminosa.
As acusações também incluem o ex-ministro do Interior
Arnaldo Giuzzio, o ex-chefe da Secretaria Nacional Anticorrupção (Senac) René
Fernández e seu ex-colega da Secretaria de Prevenção à Lavagem de Dinheiro e
Bens (Seprelad) Carlos Adolfo Arregui e a ex-vice-ministra desta pasta Carmen
Pereira, além de três outros ex-funcionários.
Também foi acusado o ex-secretário particular de Benítez e
atual deputado do partido governista, Mauricio Espínola.
“Levando em consideração que várias formalidades e outros
procedimentos ainda estão pendentes, considera-se necessário um período de seis
meses para apresentar requerimento conclusivo contra cada um dos acusados”,
ressaltou o MP.
Ao apresentar a denúncia em julho de 2023, Pedro Ovelar, advogado de Cartes, denunciou que “mentiras” foram criadas para enganar Brasil e Estados Unidos, o que levou a processos e sanções contra o ex-presidente e suas empresas.
Cartes – que derrotou Benítez nas primárias do partido
governista e é o atual presidente do Partido Colorado – foi acusado de suposta
corrupção pelos EUA, que vetou a entrada dele e de seus filhos no país.
Posteriormente, Washington aplicou sanções financeiras contra o ex-presidente e várias de suas empresas, o que levou a um processo de reestruturação do Grupo Cartes, que deixou de operar como marca em março do ano passado.