A facção Bonde do Maluco (BDM), que surgiu em 2015 dentro dos muros do Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador, na Bahia, se uniu junto ao Primeiro Comando da Capital (PCC) para traçar rota alternativa para o tráfico de drogas internacional. Segundo informações do Estadão, o BDM e o PCC estão usando o Porto de Salvador como alternativa para enviar drogas ao exterior.
Desde o estreitamento das relações entre o PCC e o BDM em 2016, o fluxo de cocaína no Porto de Salvador aumentou exponencialmente, de 810 quilos em 2016 para 8 toneladas em 2020, segundo estimativas da Polícia Federal.
Essa cooperação entre as facções resultou em tentativas de envio ilegal de drogas à Europa, como evidenciado na prisão de três funcionários de uma empresa que atuava no Porto de Salvador em setembro de 2022, tentando remeter 165 quilos de cocaína em contêineres.
A Companhia Docas do Estado da Bahia, que administra o terminal, afirmou em nota ao jornal que monitora constantemente as embarcações e dá suporte às operações.
Aliança além das drogas
A aliança estratégica entre o BDM e o PCC não se limita ao tráfico de drogas, mas também abrange o transporte de armas e a migração de membros entre os estados. O aprofundamento dessa cooperação foi evidenciado em 2018, quando traficantes do BDM deixaram a Bahia e se refugiaram em São Paulo para evitar ação policial, conforme revelado em documentos de investigação acessados pelo Estadão.
Além das atividades criminosas, o BDM é conhecido por sua capacidade de aglutinação de pequenas facções e pela implantação do terror como forma de impor sua supremacia. O grupo não hesita em utilizar as redes sociais para exibir sua influência, divulgando imagens de criminosos armados e de homicídios brutais.
Crise com aumento de violência
Originada em 2015 dentro dos muros do Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador, a facção Bonde do Maluco (BDM) rapidamente se estabeleceu como uma das maiores e mais perigosas organizações criminosas do Brasil. Fundada por um assaltante de banco, falecido em 2019, o BDM tem presença significativa no sistema carcerário baiano.
Fora das celas, essa situação se traduz em mais violência nas ruas, como visto recentemente no conflito entre o BDM e o Comando Vermelho no bairro de Pero Vaz, em Salvador. Localizado estrategicamente entre rotas de escoamento de drogas, esse bairro tem sido palco de tiroteios e incêndios de veículos.
A aliança entre o BDM e o PCC, duas das maiores facções criminosas do Brasil, representa uma nova fase no cenário do crime organizado. Documentos de investigação revelam uma cooperação estreita entre essas organizações, permitindo não apenas o comércio de drogas e armas entre Salvador e São Paulo, mas também facilitando a migração de criminosos entre os estados. O estreitamento desses laços levou até mesmo à criação de um grupo de mensagens denominado “Aliança entre BDM e PCC”, visando coordenar suas atividades ilícitas.
Para contornar a realidade, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) afirmou que as operações de combate às facções são prioridade, especialmente através da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado. Além disso, o governo baiano destacou a contratação de cerca de 2,5 mil policiais e bombeiros; a aquisição de softwares de inteligência, armamentos e viaturas semiblindadas, bem como a oferta de cursos de capacitação.
A pasta também afirmou que investe em inteligência. Com isso, já localizou 33 líderes de facções em 2023.
“O trabalho investigativo e de repressão qualificada resultou na apreensão recorde de 55 fuzis em 2023, na localização de 11 toneladas de drogas, na desarticulação de 18 laboratórios de cocaína, em 15.600 prisões e na apreensão de 5 mil armas de fogo”, disse a secretaria, que também destacou “o empenho dos policiais e bombeiros na promoção da paz” e a redução de 6% das mortes violentas no Estado.
O Ministério Público Federal (MPF) informou que há dois procedimentos ativos relacionados ao Bonde do Maluco. O órgão disse, porém, que não pode, por sigilo, informar o conteúdo. Procurados pelo Estadão para comentar as investigações, Polícia Civil e Ministério Público da Bahia não falaram.
Violência na Bahia
Ano após ano, a violência tem ganhado contornos mais definidos na terra banhada pelas calmas águas da Baía de Todos-os-Santos. No último mês de janeiro, Salvador e Região Metropolitana tiveram mais que o dobro das mortes por arma de fogo em comparação com a cidade do Rio de Janeiro, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado.
O relatório referente ao mês de janeiro indica que a Grande Salvador registrou 116 pessoas mortas por arma de fogo. Na capital fluminense, foram computadas 57 ocorrências pelo mesmo instituto no referido período.
A informação vai ao encontro dos dados que foram divulgados no Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023. A polícia baiana se tornou a mais letal do País, desbancando a polícia fluminense, que historicamente ocupava essa posição nos anos anteriores. Foram 1.464 mortes em intervenções policiais na Bahia, contra 1.330 no Rio.