Os dados fortes do mercado de trabalho dos Estados Unidos e a composição ruim do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em dezembro pressionaram os juros futuros nesta sexta-feira (10). Com isso, as taxas encerraram o pregão em forte alta, suficiente para que apagassem todo o alívio acumulado nas outras quatro sessões da semana, em especial nos vértices de longo prazo da curva a termo.
Os juros futuros operaram pressionados desde o início da sessão em reação ao IPCA de dezembro. Embora os avanços de 0,52%, na comparação com novembro, e de 4,83% no acumulado de 2024 não tenham surpreendido os investidores, o indicador novamente mostrou composição que preocupou os economistas.
“Em serviços subjacentes e intensivos em mão de obra, a nossa visão é que o número de hoje não traz revisão relevante à frente, muito embora entendemos que estes grupos tiveram desempenho ruim. Vale dizer que esta é a direção esperada, a de aceleração e pressão nos primeiros cinco meses deste ano”, comenta Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.
Da mesma forma, o departamento de pesquisa econômica do banco Daycoval, chefiado pelo economista-chefe Rafael Cardoso, entende que a pressão no setor de serviços casado com a aceleração da inflação de alimentos “reforça a expectativa de trajetória de juros mais restritiva por parte do BC”.
Com o quadro doméstico ruim, o “payroll”, relatório oficial do mercado de trabalho dos Estados Unidos, serviu como mais um fator de pressão sobre a curva a termo doméstica ao mostrar a geração de 256 mil empregos em dezembro, bem acima das 155 mil vagas projetadas pelo mercado. Além disso, a taxa de desemprego americana caiu para 4,1%, ante expectativa de estabilidade em 4,2%.
Assim, os investidores moderaram a perspectiva por cortes de juros nos Estados Unidos, o que pressionou também o mercado de Treasuries. Por volta do horário de fechamento do mercado no Brasil, o rendimento da T-note de dois anos exibia forte alta de 4,272% a 4,388%, enquanto a taxa da T-note de dez anos avançava de 4,688% para 4,766%.
“Na nossa visão, o mercado de trabalho robusto e a inflação ainda acima da meta devem fazer com que o Fed mantenha os juros no patamar atual por mais algum tempo. Na última reunião, em dezembro, a própria autoridade monetária já havia sinalizado que reduziria o ritmo de cortes nas próximas decisões”, diz Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank.
Sem um ciclo de flexibilização monetária relevante nos Estados Unidos, a tendência é que o BC brasileiro tenha mais uma razão para subir juros ao longo de 2025.