O embaixador André Corrêa do Lago, secretário para o clima do Ministério das Relações Exteriores (MRE), não acredita que a defesa da exploração de petróleo na margem equatorial feita nos últimos dias pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) possa manchar a imagem que o Brasil quer assumir como uma liderança ambiental.
Para o embaixador, as atividades na região não comprometem a mensagem que o Brasil quer passar na presidência rotativa do G20, grupo de maiores economias do mundo, e da COP30, conferência do clima que acontece ano que vem, em Belém.
“O debate sobre a margem equatorial e sobre o petróleo é muito importante a gente estimular dentro do Brasil. Eu acho que o presidente está levantando esse tema porque ele exige um certo consenso nacional já que vai ser uma política de Estado, e não apenas desse governo”, disse.
A Petrobras tenta há mais de um ano aprovar uma licença para perfurar um poço de petróleo no Amapá, na bacia da Foz do Amazonas. As tentativas foram negadas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente dos Recursos Renováveis (Ibama). Nas últimas semanas, o presidente Lula e a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, assumiram a defesa da exploração pela estatal em entrevista e discursos públicos.
O secretário do Itamaraty destacou que países que participam das discussões no âmbito do G20 e da COP investiram maciçamente em combustíveis fósseis, o que justifica a discussão sobre o tema nos países em desenvolvimento.
“Há espaço para esse debate porque se os Estados Unidos produzem petróleo, se a Noruega produz petróleo, se o Reino Unido produz petróleo, como é que essa lógica se aplica a um grande país em desenvolvimento como o Brasil?”
Ele defende que o debate leve em conta a capacidade do petróleo de atrair investimentos e evidências científicas, como o relatório da Agência Internacional de Energia, que apontou que o consumo de petróleo deve reduzir em escala global a partir de 2025.
“Todas essas questões têm que ser levadas em consideração para que o Brasil tome uma decisão sobre a margem equatorial que venha de um grande debate científico informado e que leve em consideração também como você vai usar os recursos. Esse é o grande debate nacional que tem que acontecer nos próximos meses”, afirmou.
O embaixador, que participa da aliança global de biocombustíveis liderada pelo Brasil com Estados Unidos e Índia, afirmou ainda que os países estão alinhados nas discussões para ampliar o uso do combustível sustentável em membros do G20.