O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, questionou neste sábado o acidente doméstico sofrido pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o acusou de usar o evento como “álibi” e “engano” para impedir a inclusão do país sul-americano entre os parceiros do Brics em reunião de cúpula realizada em Kazan, na Rússia.
O presidente brasileiro cancelou a viagem à Rússia para a cúpula do Brics durante esta semana por recomendação médica após sofrer um acidente doméstico em que bateu a nuca e precisou receber cinco pontos. Três dias após o acidente, a equipe médica indicou que o presidente está em situação “estável” e “apto” para exercer a rotina de trabalho. Nesta sexta-feira, ele apareceu com pontos na nuca. Por causa do acidente, Lula também cancelou uma viagem que faria à Colômbia na semana que vem para participar da COP da Biodiversidade em Cali. Na reunião em Kazan, na Rússia, o presidente foi representado pelo chanceler Mauro Vieira.
“O que era um forte boato, infelizmente parece ser corroborado por um vídeo divulgado ontem, onde o presidente Lula é visto saudável, usando suas faculdades e agindo com total cinismo (…) Lula reapareceu sorridente e ileso, mostrando que ele usou esse ‘acidente’ para mentir para o Brasil, os Brics e o mundo inteiro, fato pelo qual ele deve ser investigado”, disse Saab.
O governo de Nicolás Maduro considerou “uma agressão” o veto do Brasil à inclusão da Venezuela no novo grupo de países parceiros do bloco. O Brics originalmente foi formado por Brasil, Rússia, China e Índia, acrescentando a África do Sul pouco tempo depois. Em 2023, incluiu Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos como membros, enquanto a Arábia Saudita, também convidada, ainda não deu seguimento ao processo de entrada. Em Kazan, 13 países foram admitidos como parceiros do bloco, entre eles, dois latino-americanos: Cuba e Bolívia. Também entraram Turquia, Indonésia, Bielorrússia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria, Uganda e Argélia. A Venezuela e Nicarágua foram barradas pelo veto brasileiro.
O assessor Internacional de Lula, Celso Amorim, disse que o veto tinha relação com uma “quebra de confiança” por parte do regime de Maduro. De acordo com Amorim, o venezuelano prometeu a Lula divulgar as atas eleitorais da votação de 28 de julho, na qual ele foi proclamado presidente reeleito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) — controlado pelo chavismo — em meio a denúncias da oposição de fraude. Até o momento, o órgão não publicou as atas, como a lei exige. Na tentativa de pressionar o bloco, Maduro chegou de forma inesperada a Kazan na terça-feira, no dia em que começou a cúpula, contando com o apoio da Rússia de Vladimir Putin para contornar o veto brasileiro, mas a manobra não rendeu frutos.